*Análise do Cientista Político e Presidente da Arko Advice, Murillo de Aragão
A cada seis meses, reúne-se a cúpula do Mercosul para tratar da evolução (passada e futura) do Bloco e pôr ordem na casa. A cada encontro, velhos e resistentes problemas voltam a assombrar o grupo.
O encontro desta semana em Assunção (Paraguai) não deverá ser diferente e os fantasmas de sempre, aliados a sobressaltos de momento, rondarão o encontro entre os Presidentes.
Apesar da anunciada ausência de Hugo Chávez (Venezuela) na reunião de sexta-feira (29), pois estará em Moscou, o espectro do bolivarianismo se fará sentir, quer pelos problemas decorrentes do fechamento da RCTV e o conseqüente adiamento da efetivação da Venezuela no Mercosul, quer pela tendência desagregadora do discurso chavista – recentemente, o presidente venezuelano defendeu, novamente, a refundação do Mercosul (refutada prontamente pela diplomacia brasileira).
Caberá, uma vez mais, à diplomacia do Brasil tomar a frente no processo de apaziguamento, moderando as pressões que o sempre voluntarioso discurso venezuelano pode ter no seio do Bloco.
O processo, porém, implica dar consistência econômica ao projeto de integração comercial e econômica consubstanciado no Mercosul, tarefa habitualmente espinhosa, eivada com antigos e recalcitrantes problemas.
Entre os fantasmas mais conhecidos, as persistentes assimetrias (e a acomodação das demandas dos sócios menores), problemas como a TEC (Tarifa Externa Comum), a bitributação e a definição de uma política comercial e de negociações comum deverão mostrar-se centrais nas conversas a serem entabuladas na capital paraguaia a partir de quarta-feira (27), quando se inicia a reunião de dois dias do Conselho do Mercado Comum – órgão político do Mercosul, responsável pela tomada de decisão.
À sombra do naufrágio de Doha caberá ao encontro paraguaio repensar sua estratégia de negociações comerciais.
Em linhas gerais, há sinais de que pode haver recrudescimento no campo comercial, em especial com a redefinição de tarifas de importação para cima. Os setores contemplados deverão ser: tecidos, vestuários, calçados e tapetes. Peculiar maneira de preparar o terreno para a retomada de tratativas comerciais bilaterais.
A retomada será sinalizada pela Cúpula do Mercosul, que deverá, nesse campo, observar com especial atenção a aproximação bi-regional com a União Européia (conversas com o bloco europeu ocorrerão, a princípio, no início do segundo semestre).
Também na área da estratégia comercial comum, os Presidentes do Bloco refletirão no Paraguai sobre o atual estágio da Rodada Doha e eventuais desdobramentos para o futuro do comércio internacional e o Mercosul de modo mais particular.
Independente do diagnóstico que possam fazer os líderes sobre o atual estado do Bloco, somente o enfrentamento de seus fantasmas internos poderá viabilizar uma estratégia consistente que o permita evoluir, tanto na área comercial, quanto como projeto de integração viável, exorcizando de vez a aparência de eterna paralisia.
(Equipe Arko América Latina- americalatina@arkoadvice.com.br)